Os números que atestam a presença do machismo no ambiente corporativo nacional não são poucos. No Brasil, mais de 27% das empresas não possuem sequer uma mulher em cargos de liderança. Além disso, a diferença salarial entre homens e mulheres ultrapassa a marca dos 25% e a força de trabalho feminina é a que apresenta maiores níveis de desemprego no panorama brasileiro.
Os fatores que motivam este fenômeno de desigualdade são permeados de preconceito e se baseiam, entre diversas outras escusas, na maternidade. Pesquisas recentes revelam, por exemplo, que 15% das mulheres perdem o emprego nos primeiros meses de vida dos bebês que tiveram. Essa estatística se soma ao fato de que menos de 5% das empresas do Brasil têm pelo menos a metade da força de trabalho feminina composta por mães.
Todo este cenário foi agravado pelo período de pandemia, no qual mais de 480 mil postos de trabalho foram fechados, dentre os quais 96% empregavam mulheres. Algumas empresas, porém, optaram por nadar contra a correnteza e não só manter, mas ampliar a participação feminina entre os colaboradores, adotando medidas para equiparar os espaços garantidos para ambos os gêneros no ambiente corporativo.
O Grupo Cartão de TODOS, por exemplo, só conseguiu enfrentar a instabilidade provocada pelo período pandêmico graças a ação de um time de executivas que atuam na liderança de diferentes setores e fazem da sororidade o princípio base de seu modus operandi. Esse time é composto por: Danielle Pires Guieiro, Danielle Motta Tessaro, Lorrayne Theza, Stael Marlei e Úrsula Oliveira, cinco mulheres que atuam em diferentes áreas e, no entanto, contribuíram de igual forma para que a empresa – responsável pelas unidades de negócio Cartão de TODOS, AmorSaúde, Prepara TODOS, Incorpora TODOS, entre outras – faturasse R$ 1,57 bilhão de reais em 2020, ano em que a economia brasileira apresentou uma retração de 4,1%.
À frente de posições de poder, as profissionais do Grupo Cartão de TODOS contam um pouco sobre o sucesso de suas lideranças e a superação das adversidades ao experienciar o machismo ao longo de suas carreiras.
Fisioterapeuta com tino para os negócios
“Ser ouvida no ambiente corporativo é muito difícil, é preciso se posicionar com muito mais força que um homem”, diz Danielle Pires Guieiro, franqueada e gerente de clínicas AmorSaúde e unidades Cartão de TODOS, em Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR). Na corporação há 18 anos, Danielle é formada em fisioterapia e sempre teve um olhar atento à qualidade e organização dos serviços oferecidos nas franquias que administra. Sob sua liderança, estão cerca de 290 colaboradores, incluindo o corpo médico, de aproximadamente 160 profissionais. “Os médicos homens têm mais dificuldade em ouvir ordens do que as mulheres”, diz Danielle, que precisa se colocar de forma mais impositiva com eles. A postura tem dado certo. Além de ter sua unidade da AmorSaúde, em BH, como uma das mais bem-sucedidas de todo o grupo TODOS Empreendimentos, que conta com cerca de 300 clínicas AmorSaúde e 270 unidades Cartão de TODOS, ela contabiliza números importantes: a unidade Barreiro, sob sua gerência, atende uma média de 9 mil consultas/mês, 18 mil exames/mês e 3 mil atendimentos odontológicos/mês. “Ao longo de dez anos, tenho realizado parcerias com prefeituras do interior de Minas Gerais para receber pacientes para consultas e exames que os municípios não têm estrutura para atender”, explica.
Advogada destemida
Mas ela não é a única Danielle no grupo famosa pela liderança de sucesso. Danielle Motta Tessaro tem três franquias do Cartão de TODOS – em Magé (RJ), Diadema (SP) e Viçosa (MG) – e é a única mulher no Conselho de Ética e na Incubadora de Franquias da TODOS Empreendimentos. Advogada e há 18 anos no grupo, começou vendendo cartões. O desafio maior, contudo, foi quando assumiu, sete anos atrás, a franquia de Magé, município da Baixada Fluminense que tem altas taxas de criminalidade e violência. “Eu não podia ter medo de ônibus queimado, fuzil na mão, nem toque de recolher. Meu filho tinha um ano, e eu saía para contratar médico nos postos de saúde da comunidade. Certa vez, liguei cinco vezes para um e ele não me atendia. Subi até o posto onde ele atendia. Ele disse que pela minha coragem, viria trabalhar comigo”, lembra Danielle, que tem cerca de 250 colaboradores sob sua liderança, contabilizando suas três franquias. As adversidades não a esmorecem e fazem a advogada seguir enfrentando o machismo.
Gerente empoderadora
Lorrayne Theza é a atual Gerente de Recursos da Todos Empreendimentos, uma empresa que ela conhece como a palma da mão. No Grupo desde 2015, Lorrayne começou como auxiliar no setor de Serviço de Atendimento aos Clientes do Cartão de TODOS, estagiou na área de Contabilidade da empresa e, a partir de então, passou pelos cargos de auxiliar contábil, auxiliar financeira, assistente contábil, analista financeira e coordenadora administrativa e financeira, até chegar ao posto que desempenha atualmente. “Sinto que na sede da TODOS as mulheres têm conseguido mostrar que sua capacidade jamais será medida por gênero ou opção sexual. Sororidade fez com que as lideranças femininas se tornassem impulsionadoras para os sonhos das demais colaboradoras se concretizarem”, relata Lorrayne. A gerente destaca que entre os maiores desafios que enfrentou e que testemunhou no mercado de trabalho de forma geral, está o de conciliar a maternidade à vida profissional. Segundo Lorrayne, muitas mães são questionadas por outros profissionais sobre a disponibilidade para entregas. “Hoje vejo que ser uma mãe na liderança de um setor 95% feminino retrata que aos poucos estamos ocupando espaços importantes na sociedade. Desejo que minha filha viva numa sociedade onde a desigualdade por rótulos ou diversidade já não seja opressora como atualmente é”, complementa Lorrayne . À frente de uma equipe de 40 pessoas, a gerente se orgulha em fazer parte de uma rede de apoio e inspiração para mulheres, e se posiciona como profissional que tem como objetivo fazer a diferença para proporcionar a igualdade de gênero no ambiente corporativo.
Uma engenheira estrategista
É preciso combater o machismo no ambiente corporativo de forma estratégica, aposta a engenheira civil e gerente de incorporação do programa Minha Franquia, Meu Negócio, Stael Marlei. Responsável por fazer as novas unidades do grupo saírem do papel, ela supervisiona cada detalhe: desde a abertura de CNPJ, conta bancária e controle orçamentário das obras até o cronograma de execução, projeto e padronização das unidades. Liderando direta e indiretamente mais de 40 pessoas, Stael diz que é comum duvidarem da capacidade de uma mulher no ambiente de trabalho. “Se você é firme, é estressada; mas se for homem, é um líder de pulso. Se uma mulher for mais complacente, não está dando conta; se fosse homem, seria compreensivo”, relata. Para enfrentar esse embate, ela conta ter precisado parar de ouvir as vozes que tentavam direcionar sua liderança e acabavam por reduzir seu poder de confiança. “Meu trabalho é não me perder em meio ao que ouço”, diz. Sobre as mulheres no ambiente corporativo, ela complementa: “a sororidade ainda vai acontecer. As mulheres são muito competitivas por vaidade, insegurança. O apoio que percebo vem dos homens, mas não por bondade, e sim por resultado”, confessa. O tratamento contra um câncer de mama pelo qual passou quando ainda estava na graduação ensinou Stael a lidar com o machismo corporativo e a moldar seu estilo de liderança: “a vida te faz desistir ou desenvolver muita força para seguir em frente”.
Incentivadora de mulheres
Úrsula Oliveira é outra executiva que decidiu seguir em frente. “Em outros momentos da minha carreira, já ouvi até ‘tem mulher que trabalha direito’ e vi homens se levantarem da mesa quando uma mulher começou uma apresentação”. A gerente de recursos humanos, financeiro e material da TODOS Empreendimentos tem uma equipe direta em que 90% de seus colaboradores são mulheres, o que gera muito orgulho a ela, que diz ter escolhido ser uma líder inspiradora e ter crescido com suas funcionárias. Com 28 pessoas no time, ela tem muita responsabilidade no cargo: faz a gestão dos recursos humanos de quase 100 colaboradores da TODOS Empreendimentos, gerencia as finanças de 9 unidades de negócios, e ainda a contabilidade de 11 regionais e outras 88 franquias. “Senti no começo da carreira um desdém em relação à minha opinião técnica”, ela lembra. E, por isso, diz gostar de identificar perfis perseverantes em mulheres. “Mais do que um trabalho, reconhecer e motivar mulheres é meu propósito de vida”, finaliza Úrsula.
A carreira dessas cinco mulheres no Grupo Cartão de TODOS, além de inspiração para outras, mostra a valorização por parte da empresa para com as lideranças femininas, bem como a preocupação institucional com a igualdade na divisão de poder, nas remunerações e nas oportunidades de carreira. Tendo como maior parte de sua base de filiados as mulheres, especialmente das classes C e D, a empresa enxerga a necessidade de manter ações e políticas próprias que buscam a participação feminina dentro de seu grupo, valorizando as mulheres interna e externamente.
Mara Vilar, Vice-presidente Social do Grupo Cartão de TODOS, destaca a igualdade de gênero como uma de suas principais prioridades de atuação. “Eu estive presente em todas as fases de desenvolvimento do Cartão de TODOS e uma das minhas maiores preocupações sempre foi que não deixássemos de lado o reconhecimento ao trabalho das mulheres, que muitas vezes desempenham dupla jornada de trabalho, com os filhos em casa, e que precisam ser muito valorizadas no ambiente de corporativo. Essa premissa sempre funciona como uma das bases de nossas ações aqui no Cartão”, revela. Mara foi a primeira vendedora do Cartão de TODOS, quando ainda era apenas uma clínica médica em Ipatinga-MG, e já atuou nos mais diversos setores da empresa, prezando sempre pelo respeito e o devido reconhecimento às colaboradoras.