Por Ana Luiza Purri, diretora da Prefácio Comunicação
No dia 22 de março, celebramos o Dia Mundial da Água, data que nos convida a refletir sobre a importância desse recurso vital para o planeta. Neste ano, mais do que nunca, a discussão sobre a água ganha destaque, especialmente diante das mudanças climáticas, dos sucessivos eventos extremos e dos desafios crescentes que envolvem a gestão hídrica.
O Brasil já começa a se preparar para a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém (PA), em novembro de 2025. A escolha da capital paraense é muito importante porque a Amazônia é um dos biomas mais relevantes no mundo, que concentra grandes reservas de água doce e uma diversidade enorme de espécies animais e vegetais, e possui grande capacidade de captura de carbono.
Apesar de o Brasil se situar entre os principais atores envolvidos nas discussões internacionais sobre preservação ambiental, quando se trata de saneamento básico – abastecimento de água e coleta/tratamento de esgoto – vemos, no entanto, que o caminho a percorrer é longo. Muito já avançamos como, por exemplo, na regulamentação do Marco Legal do Saneamento, válida desde 2023, e que tem por objetivo a universalização dos serviços de abastecimento e esgotamento urbano e rural. Ainda assim, muito nos falta.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continuada Anual (PNADCA) de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o saneamento básico ainda é precário, se não, inexistente, em mais de 45% dos lares brasileiros. São quase 9 milhões de moradias sem acesso a rede de água, mais de 22 milhões sem coleta de esgoto e 1,3 milhão sem sequer banheiro. Abastecimento de água e rede de esgoto não se resumem a ações de preservação ambiental, mas constituem garantias básicas de civilidade a qualquer cidadão brasileiro. Estamos falando de amparo à saúde, como estabelece a Constituição Federal, em seu artigo 196.
Um dos pilares fundamentais para a preservação dos corpos hídricos brasileiros são os Comitês de Bacia Hidrográfica, instâncias colegiadas de caráter deliberativo e consultivo que têm como objetivo promover a gestão integrada e descentralizada da água. Esses comitês desempenham papel crucial na definição de políticas públicas e no planejamento de ações para garantir a disponibilidade e a qualidade da água em todo o país. Seguimos o modelo francês de comitê, onde as três instâncias – Poder Público, Usuários (empresas, concessionárias e outras fontes de exploração da água) e Sociedade Civil – se unem para equilibrar forças, aplicar ações e fiscalizar as atividades e os investimentos públicos.
Além dos aspectos técnicos e infraestruturais, a preservação dos recursos hídricos também está intrinsecamente ligada à preservação das culturas locais e da biodiversidade. Muitas comunidades ao redor do mundo dependem diretamente dos recursos naturais disponíveis em seus territórios para sobreviver, e a degradação desses recursos pode ter impactos devastadores em suas vidas e tradições. Nos territórios dos comitês de bacia estão povos indígenas e quilombolas, que devem ter sua ancestralidade e sua história preservadas e, para isso, o acesso a água limpa é essencial.
Nesse contexto, a atuação da comunicação corporativa desempenha papel fundamental na conscientização e mobilização da sociedade para a preservação dos recursos hídricos. A Prefácio Comunicação possui um núcleo dedicado ao atendimento de comitês de bacia hidrográfica. Atualmente, atendemos aos Comitês da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (MG e ES) e da Baía de Guanabara (RJ) e ao Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, o CEIVAP (MG, RJ e SP). Promover as melhores práticas de comunicação, ações de conscientização, engajamento e defesa do meio ambiente é também lutar pela recuperação e preservação dos nossos corpos hídricos.
Por meio da comunicação, pudemos apoiar os Comitês de Bacia em momentos marcantes e desafiadores, atuando na criação e no fortalecimento das marcas, ampliação da visibilidade dos colegiados e do próprio Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos, além do estreitamento do relacionamento com seus públicos de interesse.
Um exemplo em que a comunicação foi essencial para os comitês foi o rompimento da barragem de Fundão (2015), em Mariana/MG, que resultou na contaminação do Rio Doce em toda a sua extensão e trouxe consigo reflexos socioeconômicos, culturais e ambientais sem precedentes na história recente do país. Mesmo em um cenário de crise, com o uso de ferramentas de análise de cenário e estratégias de gestão de imagem e reputação, projetamos os Comitês da Bacia do Rio Doce em âmbito nacional e internacional, com inserções regulares na imprensa e ações que tornaram os colegiados referências, tanto para a mídia como para a comunidade – as redes sociais do CBH Doce atingiram mais de 1,2 milhão de pessoas em um território com população estimada em 3,5 milhões à época da tragédia.
Junto ao CEIVAP, implementamos toda a comunicação integrada, com canais e processos estruturados e fluxos estabelecidos, consolidando e fortalecendo a marca diante dos seus públicos de interesse, como poder público, imprensa, sociedade civil e usuários de água. Também colocamos em pauta assuntos de extrema relevância, como transposição de águas e crise hídrica. Por ser o primeiro comitê a implementar a cobrança pelo uso da água no Brasil, utilizamos a comunicação para reforçar o pioneirismo e a relevância do colegiado, que é responsável pela gestão de águas que abastecem não só o seu território, mas são extremamente importantes para a região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.
No Comitê da Baía de Guanabara, apoiamos a implementação de ações estruturadas de comunicação, identificando objetivos prioritários, mapeando oportunidades e riscos e fortalecendo a presença na imprensa e no ambiente digital. Hoje, já contamos com publicações periódicas, canais de comunicação estabelecidos – cujo crescimento orgânico tem sido expressivo – e estamos cada vez mais perto de formadores de opinião que nos apoiam na divulgação das ações realizadas no território da bacia, tão fragilizado pela ocupação irregular, pela falta de saneamento básico e pela degradação ambiental.
O Dia Mundial da Água é mais do que uma data simbólica. É uma oportunidade de olharmos para nossas ações e agirmos de forma responsável e sustentável em relação ao meio ambiente. Cabe a cada um de nós, cidadãos empresas e instituições da sociedade civil, fazer a nossa parte para garantir que as gerações futuras também possam desfrutar da água limpa e abundante que temos hoje.