O Mês das Mulheres traz com ele atenções que se voltam para questões ligadas não somente ao aumento de sua representatividade na sociedade, mas também sobre a equidade de gênero no mundo profissional. Se essa radiografia foi feita sobre o empreendedorismo, há razões para colocar mais algumas velinhas no bolo?
A resposta é sim, e não. Sim, porque de acordo com uma pesquisa feita pelo Movimento Aladas, voltado ao incentivo da liderança feminina, em parceria com o Sebrae, mais empresas foram fundadas por mulheres na pandemia, o que apontou uma movimentação interessante e promissora. E não, porque o principal motivo que levou a elas serem donas do próprio negócio foi a necessidade de levar dinheiro para casa, diante da falta de oportunidades de trabalho nas empresas.
De acordo com Daniela Graicar, fundadora do Movimento Aladas, a busca pelo empreendedorismo por parte do público feminino deveria estar ligada a propósitos pessoais e não por pressão do mercado. “Se as mulheres querem se tornar empreendedoras, que seja por motivações positivas e não por falta de opção. Muitas que estão em cargos corporativos de liderança percebem que não têm lideranças femininas acima delas e acabam desistindo. As empresas acabam perdendo profissionais de grande capacidade para outras frentes”.
A empresária Paula Cohn Mor passou exatamente por isso. Com quase 30 anos, após trabalhar por vários anos em agências de comunicação na posição de líder, recebeu vários convites para atuar no mundo corporativo, mas não encontrou lideranças femininas acima dela para ajudá-la a galgar novos passos. Acabou optando pelo mundo do empreendedorismo e hoje, juntamente com mais duas mulheres e um homem, comanda a sua própria agência. “Eu estava me debatendo no mercado. Sempre dividi meu cargo de liderança com homens, algo que sempre me incomodou. E acabei partindo para ser dona do meu próprio negócio, e não me arrependo, apesar de todas as adversidades que encontrei ao longo desse caminho, que já dura 12 anos”.
Mulheres na liderança das empresas: desafio diário
Em relação à maior presença de lideranças femininas nas companhias, Daniela aponta que esse é um desafio que precisa ser vencido diariamente. “Quando queremos aumentar esse número dentro de uma organização, quanto mais mulheres tivermos, mais mostramos que o caminho é real”.
Apesar dos desafios, esse movimento já dá alguns passos. De acordo com um levantamento feito pela EXEC, consultoria especializada em Executive Search, a média de contratações de mulheres para cargos de liderança em 2022 foi de 32%, contra 68% de homens para posições com as mesmas características. Apesar de os números ainda estarem longe de ficarem equiparados, o caminho para a equidade de gênero nas empresas vem sendo pavimentado com ações bem estruturadas e eficientes do que no passado.
Daniela cita algumas delas, como a adoção de mais flexibilidade nas jornadas de trabalho, com o entendimento de que as mulheres têm um acúmulo de funções. “Isso tem favorecido com que elas permaneçam nas grandes organizações e almejem alçar voos maiores dentro das companhias”.
Subsídio e preparo
Segundo o estudo do Sebrae e Movimento Aladas, as mulheres estão se dedicando com mais afinco para desenvolver novas habilidades de gestão e empreendedorismo, reflexo do aumento da oferta de oportunidades de capacitação.
O próprio Movimento Aladas conta com a MentorEla, uma plataforma que reúne, de um lado, mais de 100 mentoras e mentores com um vasto repertório profissional e que acreditam que apoiar alguém em sua trajetória é um legado. E do outro, mulheres que querem aprimorar sua capacidade de liderança ou tirar dúvidas sobre seus negócios, em todos os níveis, fases e verticais de atuação.
No modelo de funcionamento, os mentores doam seu tempo e conhecimento para “desatar os nós da cabeça” das mulheres que lideram equipes ou comandam seu próprio negócio. “As mentoradas pagam um preço muito mais acessível do que o real valor que esse time de mentores cobra por uma mentoria”, ressalta Daniela.
Entre os diversos tipos de conhecimento trabalhados nesses aconselhamentos está o desenvolvimento de habilidades socioemocionais — conhecidas como soft skills e cada vez mais valorizadas nas profissionais — algo que, de acordo com a pesquisa feita pelo Aladas e Sebrae, as mulheres vem se sentindo cada vez mais capacitadas nessas competências
Caminho a percorrer
Para Daniela, ainda há uma longa trajetória a ser trilhada na busca da equidade de gênero no mundo profissional e o papel da sociedade é fundamental nesse processo. “Falar sobre o assunto e trazer mais visibilidade é uma maneira de reconhecermos que é necessário diversificar os pontos de vista no ambiente de trabalho, além de apoiarmos cada vez mais a quebra de obstáculos dessa trajetória. O caminho ainda é longo, mas estimular a conversa nos ambientes corporativos e fora deles é essencial nessa busca constante para equilibrar essa balança. Meu sonho é que, em poucos anos, um movimento como o Aladas não seja necessário”, conclui.
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