Por Elaine Resende
Semana passada, meu filho de seis anos me surpreendeu com uma pergunta que ele poderia ter feito diretamente para o Chat GPT, caso já tivesse livre acesso à internet. Foi uma pergunta séria, daquelas que nos fazem pensar antes de abrirmos a boca para não falarmos besteira. Então, aproveitando que Inteligência Artificial é o assunto da vez, já aviso de antemão que respondi do meu jeito, como bom ser humano que sou: imperfeito e enviesado, mas com toda a paixão que cabe em mim.
“Mãe, por que é que eu preciso estudar?”
Pelo jeito, a conversa do jantar havia repercutido na cabecinha de seis anos dele, com aquele desânimo todo (tenho que admitir) de quem mal aprendeu a ler e a escrever e descobre que este é só o começo.
Não sei quanto a vocês, mas eu levei a pergunta a sério. O pequeno estava realmente curioso e, diante desse interesse tão puro, não dava pra mandar um “porque sim, Zequinha”.
O tal papo do jantar era sobre o fato de que, em 2023, completa dez anos que concluí o mestrado, meu último nível de educação formal. Isso estava me gerando um desconforto e eu explicava ao meu marido que precisava tomar logo a decisão de seguir com o doutorado, me lançar num MBA ou comprar uma bicicleta.
Mal tive tempo de começar a formular a resposta (certeza que a IA já teria escrito uma dissertação do nível Fuvest) e o baixinho solta a segunda bomba:
“E se eu não quiser fazer faculdade?”
Pensei em dizer para ele que o cenário atual é complexo e nós, que somos pessoas (é preciso repetir para não esquecermos), somos cobrados a responder com cada vez mais habilidade e repertório às necessidades do mercado de trabalho para nos mantermos ativos e relevantes.
Mas isso seria muito vago para ele.
Então, falei com as minhas palavras, de um jeito que ele entenderia:
Sabe os Transformers, filho? Aqueles robôs que falam, pensam e…
“E lutam?”
Esses mesmos. E se eu disser que esses robôs existem de verdade? E que você pode conversar com eles? E que eles podem responder qualquer pergunta que você fizer sem precisar buscar no Google? Seria incrível, né? Mas também seria um pouco assustador, já que eles poderiam passar a fazer algumas coisas que hoje são realizadas por seres humanos e roubar o emprego de muitas pessoas, gerando um problema sério para todo mundo.
Para não o assustar demais, eu trouxe um contraponto.
Argumentei que as respostas desses robôs (“o mais famoso, hoje em dia, chama-se ChatGPT, filho”) não têm uma pessoalidade definida, não usam metáforas, nem ironias para bons entendedores, nem citam as fontes das suas respostas. Eles não entendem o que é o senso comum e nem fazem uma contextualização do que dizem. É claro que expliquei essas ideias de um jeito simples (essas palavras são de Lucia Santaella, um grande nome da Semiótica no Brasil). Ao meu modo, eu disse que os robôs não têm uma personalidade nem vieram de lugar algum. Eles foram inventados por pessoas e podem, sim, ajudá-las a executar tarefas importantes, e que isso pode ser muito bom, desde que eles sejam encarados como ferramentas.
O que vai acontecer com os robôs no futuro, eu não sei. Se tivermos sorte, viveremos bastante e descobriremos isso juntos. Mas uma coisa eu sei: não adianta competir com eles. O único caminho é o da adaptação. A gente precisa se adaptar para continuar evoluindo.
“Como a gente evolui, mãe?”
Aprendendo. É assim que evoluímos. E compartilhando o nosso conhecimento.
Sabia que ser humano é ser imperfeito? Parece óbvio, mas “imperfeito” é o contrário de “perfeito”. Perfectum, em latim, significa “ação que se completou”, “ação completamente finalizada”. Quer dizer: se estamos vivos, não temos como ser perfeitos, entende? E é por isso que somos tão interessantes. Porque ainda não estamos completos, então sempre podemos melhorar!
É essa busca constante por melhorar que nos faz evoluir. E a gente não melhora apenas quando vai para a escola ou para a universidade. A gente aprende em qualquer lugar, de todos os jeitos.
Se um dia você cursar uma faculdade, vai ser maravilhoso. Mas, se não quiser ou não puder, eu sei que a vida vai se encarregar de te apresentar muitos outros professores.
Independentemente do caminho que você seguir, filho, seja o das Artes, o das Ciências ou qualquer outro, mantenha a chama da curiosidade acesa e exercite sempre a empatia. Elas o levarão longe.
Estude sempre, inclusive para poder decidir sobre o que vale e o que não vale a pena aprender. Porque tem muita coisa disponível ao nosso redor, especialmente na internet, mas saiba que nem tudo vale a pena. Então, espero que você tenha condições de selecionar onde e como usará o seu tempo para não desperdiçar a sua atenção nem a sua energia.
Se, por acaso, você seguir o caminho corporativo, como seu pai e eu, desejo que você tenha a sorte de ter gestores atentos que enxerguem a educação corporativa também como um excelente caminho – cada vez mais necessário, eu diria – para compreender e influenciar o mundo à sua volta de um jeito positivo. Talvez você encontre aí conteúdos profundos e originais (esses são os melhores, você vai ver) e se depare com coisas tão diferentes e opostas a ponto de contestar uma e outra para, finalmente, ser capaz de criar a sua própria trilha de aprendizado.
Não perca dos olhos os sinais do futuro e aproveite as oportunidades que surgirem. Se você puder fazer isso, você se adaptará de forma menos dolorosa aos novos tempos (eles sempre chegam), e continuar evoluindo vai ser muito mais fácil.
Eu sei que mãe fala demais, filho. Esse é um dos meus tantos defeitos (de novo: eu sou uma pessoa). Mas, por último, se puder se lembrar de apenas uma coisa, lembre-se disso: o aprender é nosso aliado, porque o conhecimento nunca se perde.
Elaine Resende
Profissional com mais de 15 anos de experiência em Comunicação e Marketing B2B/B2C, no Brasil e no exterior, Elaine Resende lidera a Gestão de Fidelidade do Grupo Take 5 (especializado em educação corporativa à distância, com soluções completas para treinamento). Especialista em Branding, Experiência de Marca, Planejamento de Comunicação, Marketing de Relacionamento e Reputação, tem vivência em empresas nacionais e multinacionais, agências de comunicação, startups e consultoria de negócios. Fluente em Inglês e Espanhol, é mestre em Business Communications pela Universidad Complutense de Madrid. Empreendedora, focada em resultados e em gente, entusiasta da compreensão do comportamento do consumidor e da liderança com foco no desenvolvimento das pessoas.