Há 21 anos no ar, o jogo Big Brother Brasil é palco de um fenômeno, denominado pelo sociólogo do consumo da ESPM, Fábio Mariano Borges, como ódio recreativo. “Essa é a primeira vez que vejo a celebração do ódio com a participação de marcas”, diz o pesquisador. Borges preocupa-se com consequências imprevisíveis à vida da rapper Karol Conká, que foi eliminada na noite de ontem, com a marca recorde de 99,17% de rejeição.
O BBB é um jogo que se alimenta da discórdia, porém essa edição apresenta uma escalada de ódio nunca vista antes. “Todo mundo passou do limite. Do bullying, passamos ao linchamento digital sem qualquer tipo de freio moral”, afirma o professor da ESPM. O gestor de uma marca não controla as atitudes das outras pessoas, nem mesmo da artista ao sair do jogo e as consequências podem chegar a situações trágicas. “Quem garante que, daqui a alguns dias, a Karol não cometa um ato impensado?”
Uma brincadeira do LinkedIn chamou a atenção de Borges, após a plataforma ficar fora do ar por algumas horas e voltar explicando que havia liberado a equipe de TI para a votação. A CVC fez uma postagem no Instagram, oferecendo um voo de helicóptero para a apresentadora Ana Maria Braga fugir da entrevista de hoje de manhã e a Drogaria São Paulo utilizou menções a termos que se relacionam a imagem da artista, em ações de marketing, dentre muitos outros exemplos salvos e arquivados pelo pesquisador para realizar análises aprofundadas. “Não cabe a uma marca tirar proveito da banalização do mal, como dizia a filósofa alemã Hannah Arendt, porque as consequências à vida da artista e de sua família são incalculáveis”. Para o pesquisador da sociologia do consumo, os prejuízos financeiros se encaixam na política de cancelamento, enquanto que as agressões se configuram em questões morais. Temos exemplos objetivos de linchamento e esse não deve ser um lugar ocupado por uma marca.”