Por Fernanda Garcia
No dicionário a definição da palavra Tendência é: 1. Ação ou força pela qual um corpo tende a mover-se para alguma parte. 2. [Figurado] Propensão; inclinação; disposição; propósito.” E quando se fala em tendência, pensamos em tendências de moda, tendências de mercado… São previsões que podem ou não se realizar, e que podem ou não ser seguidas pelo público e pelas empresas.
E o que isso tem a ver com as mulheres em cargos de liderança? Comecemos pelos dados.
De acordo com um levantamento realizado pela consultoria e auditoria Grant Thornton, 38% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres, e nós nos espalhamos por diversas áreas no C-Level: somos CEOs, CFOs, CMOs… E, se comparado com o mesmo levantamento de 2019, não muitos anos atrás, o número de mulheres em posição de liderança vem crescendo: éramos apenas 25%, o que representa um salto de mais de 10% em apenas três anos, e pesquisas apontam que esse número deve aumentar ainda mais.
Mas por que destacar o crescimento e a importância das mulheres em cargos de gestão? Primeiramente, vale ressaltar que o mesmo levantamento da Grant Thornton traz também a informação de que 6% das empresas brasileiras deliberadamente deixam o C-Level apenas para os homens. Além disso, nos dois anos da pandemia também foi um período que contribuiu para o afastamento das mulheres do mercado de trabalho, e a taxa de desemprego feminina vem crescendo mais do que a masculina, como aponta uma pesquisa desenvolvida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Mesmo que a taxa de participação feminina no mercado de trabalho seja historicamente menor que a masculina, o número de mulheres inseridas no mercado vinha crescendo na última década. Porém, com a pandemia, esse aumento estagnou, são mais de 7,5 milhões de mulheres fora do mercado de trabalho. Isso pode ser explicado por diversos motivos, como as relações desiguais no trabalho doméstico e no cuidado familiar, bem como com a grande presença de mulheres em empregos informais.
Portanto, ao falar da presença de mulheres em cargos de liderança e gestão como tendência, não estamos exatamente apontando uma informação equivocada; mas estamos deixando de lado todo um outro aspecto no que diz respeito às condições de trabalho das mulheres no Brasil. E isso importa pois, para que seja possível que mulheres cheguem ao C-Level, é preciso que elas façam parte do mercado. Que elas estejam integradas nas empresas, ocupando espaços de trainee, vagas júnior, vagas sênior, tendo a chance de vislumbrar um caminho de crescimento. Enquanto as mulheres precisarem escolher entre trabalhar ou cuidar dos filhos (uma realidade ainda muito presente no nosso País), enquanto o trabalho doméstico ainda for um “segundo expediente” para muitas mulheres, a presença delas nos cargos de liderança não será um resultado de ações efetivas que as levaram até lá, e sim apenas uma “tendência”.
Fernanda Garcia é especialista em Comunicação na Raccoon.Monks, agência de soluções digitais full service com clientes como Natura, XP Inc., Google, Nubank, C&A, Grupo Big e YDUQS. A empresa se fundiu, em 2021, ao grupo S4 Capital, holding de publicidade digital fundada por Martin Sorrell, passando a se chamar Raccoon.Monks