Há um grande desconhecimento social sobre as neurodivergências, embora 15% a 20% da população mundial seja neurodivergente, segundo a Universidade Stanford. Sabendo que educar é a palavra-chave, a agência de comunicação e consultoria Maya idealizou o Manual de Narrativas Atípicas: um guia não definitivo para jornalistas e produtores de conteúdo, disponível gratuitamente para todos que desejam falar e escrever sobre o assunto. “É um pequeno passo, aquele que podemos dar, para a transformação da sociedade”, diz Paola Carvalho, fundadora e diretora criativa da Maya.
O manual foi realizado em parceria com a Universidade Corporativa Korú e com o apoio da Tismoo.me, do Órbi Conecta, do Redes Cordiais e da Stardust Zone. O material reúne informações, estudos e fontes confiáveis sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e demais neurodivergências, fornecendo os conhecimentos básicos sobre o tema e sensibilizando para a maneira de tratá-lo nas mídias. O guia antecipa uma série de questões e inseguranças que podem surgir quando uma pessoa leiga se depara com o tema.
“A mídia tem o poder de moldar comportamentos, crenças e políticas, desempenhando um papel fundamental na formação da percepção pública sobre as neurodivergências. É crucial, portanto, que essa representação seja precisa, respeitosa e inclusiva”, afirma Paola Carvalho, que também é mãe atípica. Ela aponta como as narrativas midiáticas contemporâneas vêm simplificando a neurodivergência, repletas de estereótipos e clichês, como as séries de TV The Good Doctor, Atypical e Uma Advogada Extraordinária. “Para promover uma representação mais fiel e enriquecedora, é fundamental dar visibilidade e protagonismo às próprias pessoas atípicas”, defende Paola.
O manual faz parte de uma iniciativa maior da Maya, a campanha educativa Conviver com a Neurodivergência, lançada no Dia Mundial da Conscientização do Autismo, 2 de abril, com uma ação para jornalistas de todo o Brasil. Os profissionais receberam por correio um press kit que incluía um pôster de conscientização sobre o TEA e dois colares de identificação de deficiências ocultas: um com estampa de quebra-cabeça, que indica autismo, e outro com estampa de girassol, que indica todas as deficiências ocultas.
“Pensamos nessa ação como uma maneira de aproximar a imprensa da realidade material das pessoas atípicas, uma forma de sensibilização que pode até se tornar um presente para alguém que se identifique com a condição de neurodivergente e ainda não tenha passado por um diagnóstico”, comenta Paola.
A campanha educativa se baseia em estudos nacionais e internacionais e, principalmente, em uma pesquisa realizada pela Maya, em parceria com a Universidade Corporativa Korú, intitulada Neurodiversidade no Mercado de Trabalho. A pesquisa demonstrou a falta de conhecimento circulante sobre o tema: dos entrevistados, 85,9% nunca receberam orientações para conviver melhor com colegas de trabalho atípicos. Mas a pesquisa mostra também que a maioria das pessoas (56,3%) está aberta a aprender sobre o assunto por meio de programas de conscientização e educação, sendo esta a melhor forma de combater os estigmas e preconceitos relacionados à neurodiversidade.
A neurodiversidade não é a única causa apoiada pela agência. Com uma equipe 100% feminina e atuação nacional, o trabalho da Maya é enxergar transformações, investigar contextos, escutar pessoas, traduzir conhecimentos, deixar emergir o novo e divulgar futuros — “especialmente quando esses futuros se encontram com a projeção da sociedade que queremos”, ressalta a fundadora. Desde 2022, a Maya vem apoiando, por meio da assessoria de imprensa, o ativismo ambiental (Marcelo Rocha), o ativismo humanitário (Hyatt Omar), o ativismo negro (Danielle Marques/Do silêncio ao Silício) e redes maternas (Mommys e Comunidade Ohana), continuando aberta a novas causas.
Um dos projetos apoiados se tornou um case. A estratégia da Maya para divulgar a atuação do Mommys foi realizar uma pesquisa dentro da comunidade, formada por 9 mil mulheres, sobre maternidade e saúde mental. Com resultados que apontaram para a exaustão mental devido à sobrecarga de tarefas e a importância de uma rede de apoio, a pesquisa foi divulgada a nível nacional, ganhando destaque em diversos veículos. Meses depois, a pesquisa inspirou, de forma espontânea, a campanha de Dia das Mães da marca O Boticário: Quem ama também precisa de amor, transmitida em rede nacional de TV e disponível no YouTube, onde já contabiliza mais de 2,6 milhões de visualizações.
“A divulgação que resultou em uma campanha do O Boticário mostra o poder da narrativa verdadeira e cuidadosa. O dado da nossa pesquisa mencionado no vídeo é que 62,7% das mães se sentem cansadas e sobrecarregadas, ele estampa a realidade da maternidade no Brasil. Incluímos no release uma análise sobre como as mães são socialmente cobradas de ‘dar conta de tudo’, da casa, dos relacionamentos, do trabalho, enquanto cuidam sozinhas dos filhos. Enxergar as forças e as fragilidades das pessoas é a essência para contar uma boa história”, elucida Anne Morais, diretora da consultoria Maya, que acrescenta: “a comunicação é uma ferramenta poderosa para mudar narrativas, estereótipos e, consequentemente, a sociedade”.