Nesta quinta-feira, dia 2, a Mancha alvi Verde, maior torcida organizada do Palmeiras, surpreendeu a todos anunciando o fim de suas atividades por tempo indeterminado. O motivo? Uma tragédia.
Moacir Bianchi, um dos fundadores e ex-presidente da torcida organizada foi brutalmente assassinado com 22 tiros. E essa foi a gota d’água para os responsáveis pela Mancha.
Hoje, como jornalista do Jogada do Marketing, peço licença para sair um pouco do assunto de marketing esportivo para expor e opinar sobre a atual situação que vive o futebol. Uma tragédia dessas não podia passar batido.
As torcidas organizadas do estado de São Paulo vêm sofrendo repressão de todos os tipos. O Ministério Público proibiu desde o ano passado que as torcidas adentrassem os estádios com camisas, faixas e instrumentos. Clássicos devem ser disputados com torcida única e o futebol aos poucos vai se transformando em um grande espetáculo de teatro. Perdendo sua essência.
A mídia, como de costume, só fala de torcida organizada quando acontecem tragédias, e, sendo assim, o senso comum criminaliza as torcidas, já que as notícias que chegam na casa das pessoas são tragédias.
Diante de tanta dificuldade em existir, o assassinato do segundo fundador da Mancha extinguiu as forças da torcida. Em 1988 Cléo Sóstenes, fundador da Mancha Verde foi assassinado a tiros na sede da torcida. Em 2017, 29 anos depois, Moacir Bianchi, outro fundador, é assassinado a tiros em seu carro.
Junto com Moacir se foi a força, a essência e a alma da torcida. Ainda não se sabe o motivo e os autores do crime, mas quem perde com isso é a Mancha, o Palmeiras e o futebol.
O produto futebol se torna menos atraente. A divulgação da mídia que criminaliza as torcidas afasta o público dos estádios, desestimula o amor do povo pelo esporte mais amado e cativante do mundo.
Times lucram menos, torcedores perdem suas paixões. Depois de 34 anos e com uma Libertadores pela frente, não se sabe quem ditará o ritmo das arquibancadas do Allianz Parque.
Mas como a situação chegou ao extremo desse jeito? O que faz uma torcida desistir de apoiar seu clube? Impunidade é a palavra que resume muita coisa. As leis no Brasil são vagas e não são cumpridas.
Como o próprio Moacir disse em uma de suas entrevistas, a violência entre torcidas só chegou nesse nível porque as autoridades deixaram. Se todos que arrumassem problemas fossem punidos, existiria o medo e menos violência. Mas desde que existem torcidas organizadas há impunidade, e os torcedores sabem disso.
Por mais que se fale mal das torcidas, elas são as que realmente comparecem a todos os jogos, empurram o time e transformam o estádio em um verdadeiro inferno para o time adversário. Essa é a essência do futebol. Que isso não se perca. Que a Mancha não seja a primeira de muitas torcidas a acabarem, mas sim um marco de paz, um pedido de ajuda do futebol.
As torcidas parecem se solidarizar, como fizeram depois da tragédia da Chapecoense. No velório de Moacir hoje (dia 3) pela manhã teve a presença de membros da Gaviões da Fiel, principal organizada do Corinthians, e Adamastor, figura histórica da Independente, principal organizada do São Paulo, mandou flores.
Que os responsáveis pelo crime paguem, pelo bem da democracia. Que a Mancha Verde volte atrás em sua decisão, pelo bem do Palmeiras. Que a morte de Moacir Bianchi não seja esquecida ou ignorada, pelo bem do futebol.