Não é segredo que a IA é uma das maiores apostas para 2024 dentro do mercado criativo. A ferramenta tem sido utilizada desde o desempenho de campanhas, até a criação de conteúdo e o Brasil já está à frente na aderência do recurso. Segundo o levantamento mais recente da Twilio, 98% das empresas do país já incorporaram o mecanismo, mas quais os alertas entorno desse dado?
Bruno Höera, fundador da agência Portland – que tem o propósito de impacto social no universo criativo, recrutando e preparando profissionais para desenvolver projetos independentes ou em cocriação com agências – identifica que o maior desafio é a compreensão de quando e onde vale a pena aplicar a IA. Na contrapartida do desempenho positivo do recurso em analisar dados e identificar padrões, há uma carência de atenção para as nuances emocionais e sociais que moldam o comportamento humano.
“Acredito que muitas coisas só a sensibilidade dos seres humanos consegue enxergar. Vejo muitos candidatos reclamando dos processos seletivos totalmente digitais que usam apenas um algoritmo para definir o seu futuro. Não faz sentido. Outro dia li uma matéria de uma mulher que se candidatou na própria vaga que abriu e não foi aprovada”, explica Bruno.
O relatório anual do Twilio também prevê que neste ano, 54% das companhias pretendem gastar mais em campanhas baseadas em IA, outras 64% afirmam pretender ajustar as estratégias em torno dela. Para o publicitário, caminhar com a tecnologia como assistente pessoal e profissional é positivo, e relata que tem sido uma colaboradora na construção de estratégias nos projetos, no auxílio para encontrar padrões, evoluir textos e identificar possibilidades, mas completa: “É uma aliada. Digo isso porque sem o meu direcionamento ela não vai funcionar”.
A colocação ressalta a importância da atenção para a seleção do uso da IA, para que seja preservada a originalidade e autenticidade humana, e não consista em replicar conceitos previamente existentes. “Apesar das IAs acelerarem os processos criativos, elas ainda não estão atualizadas com a realidade do momento, em alguns aspectos. Muitas vezes acaba sendo racista e misógina por exemplo, exatamente porque no seu banco de dados, as imagens sobre CEOs de empresas, trazem na sua maioria fotos de homens brancos.”, explica.
O gestor da agência Portland evidencia que trazer essa sensibilidade na execução de campanhas, é importante não só para entender esse descompasso, como também, para alimentar cada vez mais os bancos de dados e sites de busca com informações sobre onde e como querem chegar. Bruno afirma que automatizar a criatividade para conectar pessoas a marcas, a IA pode ser limitadora, e que é essencial reconhecer as limitações da tecnologia, para que ela complemente a análise de dados, mas com insights humanos, de forma eficaz.
“No universo criativo a presença da criatividade sensorial ainda se faz necessária, afinal de contas, nós falamos exatamente com pessoas. E os hábitos e pensamentos das pessoas mudam. Outro dia perguntei para o ChatGPT qual era a cidade mais estranha do Brasil – ele me respondeu me dando uma lição de moral, dizendo que “ser estranho” é um conceito que depende das suas vivências como ser humano e dos parâmetros que você tem como o que é normal”, conclui.