A ‘A Quinta Pet’, foodtech brasileira de alimentação natural para pets, inicia internacionalização em Portugal, mirando o mercado europeu. As operações já começam nesse mês. Com linha de produção garantida de parceiro local, Tiago Tresca (34), CEO e cofundador da marca, embarca para o país para estreitar negociações com donos de petshop para a comercialização dos produtos. O objetivo também é conquistar o respaldo de veterinários. Unindo as duas operações – Brasil e Portugal, a meta é quintuplicar o faturamento de R$ 5 milhões para R$ 25 milhões até dezembro desse ano.
A estratégia para ganhar o mercado europeu é se apresentar como uma evolução em termos de logística e segurança alimentar, frente a um mercado dominado pelos congelados e enlatados. A meta é conseguir o mesmo feito ocorrido no Brasil em 2021 quando anunciaram ao mercado uma tecnologia diferente de envasamento de ingredientes naturais em sachês, o que permitiu que os produtos chegassem prontos e sem a necessidade de refrigeração até a casa dos consumidores. Com isso, a startup escalou rápido com crescimento de 10% ao mês desde então.
No Brasil, a novidade acelerou o mercado de alimentação natural pet tornando-o mais acessível [principalmente em termos de distribuição] a uma parcela da população, antes, distante desse perfil de produtos. “Esse foi o grande pulo do gato. Quando estudamos o setor aqui, vimos a prevalência do modelo de congelados dos Estados Unidos. Isso é inviável devido à ineficiência logística de um país como o nosso. Fora isso, exige do petshop um refrigerador, pois – mesmo na geladeira – a validade dos congelados é em torno de seis meses”, explica Tresca.
“Soma-se a isso o fato de o produto congelado ser pouco prático, sendo preciso colocar o alimento em banho maria e fazer o cozimento. Entre congelar e descongelar, não há certeza se o alimento estragou. Dessa forma, no mercado europeu – no qual dominam esses dois modelos [congelado e enlatado], nosso negócio emerge como uma ruptura das práticas anteriores por ser mais prático, escalável/abrangente e por oferecer mais segurança alimentar”, completa.
Segundo Tresca, esse é o momento ideal para a estratégia de expansão da startup brasileira, visto a movimentação de grandes players globais comprando marcas de alimentação natural daquele continente. A Butternut Box, empresa de alimentos frescos para cães do Reino Unido, levantou 280 milhões de euros com novo investidor para aumentar sua presença na Europa. Já a espanhola Dogfy, cujo faturamento de 2023 chegou a 30 milhões de euros, vem atraindo diversos investidores – dentre eles uma holding catalã que abocanhou mais de 50% de suas ações.
Outros importantes movimentos desse mercado foram a compra da líder Lily’s Kitchen – líder no Reino Unido, pela Nestlé Purina PetCare, além da compra da marca de alimentos para animais de estimação Nom Nom, por US$ 1 bilhão, pela Mars como parte de uma série de transações da empresa para ganhar território na indústria pet.
“É um movimento que aponta uma profissionalização desse cenário. Portugal é um país pequeno, atrai pouca atenção dos grandes players. É a porta de entrada ideal para entrarmos, com vistas a expandir a curto prazo para os países vizinhos”, conta o executivo que também conta a estratégia da marca para entrar no mercado europeu. Ela inclui um cardápio diferente do que é comercializado no Brasil com matérias-primas muito utilizadas na culinária lusitana, tais como broculos [brócolis], feijão verde, curgete [que é a aboborinha no Brasil], moelas e óleo de girassol. Insumos esses que ajudarão a dar vida à tradicionais dietas portuguesas Carne de Vaca à Jardineira, o Secretos Porco com ‘Bróculos’ e Peito de Frango com Cúrcumas, entre outros.
Novidades para o Brasil
IA inédita para o setor – Aqui no Brasil, a empresa inicia a segunda fase de seu plano de negócios para abocanhar o mercado interno. Trata-se do lançamento da Maia, uma assistente virtual programada para conversar com o tutor com o intuito de identificar necessidades e sugerir soluções.
“Por exemplo, o tutor conta para a Maia que o pet está latindo fora do normal ou mordendo os móveis. Ela pode sugerir atividades ou brinquedos interativos para o chamado ‘enriquecimento ambiental’, que são aqueles estímulos físicos, mentais e emocionais para amenizar uma ansiedade do animal. Em seguida, ela vai perguntar até quanto o tutor pode pagar e apresentar diferentes opções de produto para a análise, dentro da faixa de preço que ele pode pagar, explica Tresca.
“Essa experiência de compra é inédita para tutores brasileiros. Apelidada de ‘conversational commerce’, a tendência emergiu ano passado no mercado global e chegou ao Brasil nos segmentos de alimentação e finanças, principalmente. No setor pet, será a primeira vez. O consumidor não quer fazer compras pontuais em um app ou site, ele quer conversar, ter recomendações de compras e interagir sobre elas”, explica o executivo que fez parcerias com petshops de bairro para dinamizar o processo de entrega dos produtos em até 2 horas após a solicitação via Maia. Mais de 7 mil unidades de produtos já estão na base de dados da IA.
O CEO informa que, nesse primeiro semestre, o foco com Maia será produtos. Já no segundo semestre, a IA conseguirá fazer a interface com serviços, a exemplo de agendamento de banho e tosa, consultas ao veterinário, etc. Neste primeiro momento, será disponibilizada aos assinantes das dietas e aos consumidores dos petshops. Com a chegada da Maia, a meta até o final do ano é crescer 13%/mês em venda direta [assinaturas] e mais de 20% na distribuição [petshops).
Maia é alimentada por uma equipe de veterinários e especialistas em nutrição animal, que também interagem diretamente com o tutor para os casos de orientações e reformulações na dieta pet, sobretudo na transição da alimentação industrializada para a natural.
Mudança de portfólio – O salto para a venda de produtos e serviços acompanha o incremento do portfólio para novas dietas e uma linha inédita de suplementos no Brasil, anunciados ainda nesse primeiro semestre. Para isso, foi necessário um novo parque fabril para o escalonamento da distribuição para atender o crescimento dos planos de assinatura e das vendas avulsas nas lojas físicas.
“Estamos fortalecendo nossa presença no Brasil, com respaldo sólido para conquistar o mercado europeu. Temos tecnologia com potencial para inspirar uma mudança significativa no setor. As expectativas de sucesso são reais”, destaca Tresca.