Por Claudia Nogueira
Em reuniões ou encontros informais no trabalho, é usual ouvir frases do tipo: “as mulheres estão no poder!” ou “as mulheres venceram!”, muitas vezes proferidas por colegas homens por se basearem em percepções do senso comum; por terem uma chefe mulher ou, ainda, por identificarem algumas mulheres em cargos de poder. De fato, nos últimos anos, líderes femininas mundiais têm se destacado bastante, seja na tomada de decisões para conter a pandemia da covid-19, seja no campo geral da política, seja no âmbito da ciência, dos esportes ou no ativismo ambiental, entre tantos outros.
No entanto, se olharmos o panorama geral, ainda são poucas essas mulheres que ocupam cargos de liderança, principalmente nos níveis hierárquicos mais elevados.
Por essa razão, a fortalecimento da liderança feminina é, ainda, uma pauta muito importante e necessária quando se trata de equidade de gênero. Somos um dos países mais desiguais do mundo. Esse fato está consignado no relatório elaborado pelo Fórum Econômico Mundial de 2021. O documento traz também a informação de que a previsão de igualdade entre homens e mulheres no mundo retrocedeu no período da pandemia, passando de 99,5 para 136 anos, ou seja, mais de um século ainda será necessário até que a igualdade de direitos em geral seja uma realidade para as mulheres.
Fica patente, destarte, que ainda há clara necessidade de envidarmos esforços no sentido de transformar essa realidade.
Uma das formas de se fomentar a ocupação de cargos de liderança por mulheres é por meio de programas de mentoria. Uma mentoria é um processo de orientação profissional recomendado como uma forma de ganhar velocidade de crescimento e acelerar resultados, desenvolvendo as competências necessárias para o objetivo desejado.
Mentorias são excelentes. Talvez até a melhor forma de se aprender. Contudo, programas de mentoria ainda são pouco aplicados no Brasil. Menos ainda para as mulheres – o que desfavorece o atingimento da equidade de gênero que se busca atualmente tanto nas empresas, quanto nas organizações públicas como um todo.
Segundo um relatório interno da Hewllet Packard, “as mulheres só se candidatam a novas funções se acharem que atendem integralmente a todos os critérios arrolados. Já os homens se candidatam se acharem que atendem a 60% dos requisitos. Essa diferença tem um enorme efeito cascata.
As mulheres precisam parar de pensar “Não estou preparada para fazer isso” e passar a pensar “Quero fazer isso – e vou aprender fazendo!”.
De acordo com a pesquisa Bain/LinkedIn Liderança feminina: sem atalhos 2019, em comparação aos homens em meio de carreira, mulheres no mesmo ciclo têm:
- 41% mais chance de acreditar que elas não têm as mesmas oportunidades de ascender na carreira como seus pares;
- 16% mais chance de ter questionado, pelo menos uma vez, a habilidade para ser bem-sucedida;
- 20% mais chance de não se sentir motivada e inspirada para o trabalho do dia a dia;
- 40% mais chance de ser incapaz de lidar com o stress diário do trabalho, sem gerar grandes impactos sobre outras atividades;
- 38% mais chance de acreditar que o volume e o ritmo de trabalho não são suficientes para receber uma promoção;
Mesmo com toda a sua competência, mulheres muitas vezes duvidam da sua capacidade e hesitam diante de um convite para assumir alguma função de liderança. Há razões socioculturais para isso, sabemos. E elas se manifestam nas estatísticas mostradas acima. Que podem ser traduzidas, entre outras formas, nas várias dificuldades típicas de mulheres na liderança, começando por comentários jocosos no meio de reuniões, passando pelo descrédito cínico de alguns colegas, chegando até o desrespeito e o assédio. O apoio, o incentivo e a orientação podem impulsionar mulheres para a liderança. Da mesma forma, falta de preparo para lidar com as questões que surgem na liderança pode retrai-las ou paralisá-las.
O Programa de Mentoria Liderança Corajosa e Gentil, criado no Senado Federal, tem o objetivo de aumentar a capacitação e a segurança das servidoras para ocuparem cargos e assim conseguir aumentar a equidade de gênero na Casa, fazendo com que mais e mais servidoras compreendam que já são capazes de transformar essa realidade.
A proposta é contribuir para essa mudança de paradigma e empoderar as mulheres, possibilitando que se sintam ainda mais preparadas e fortalecidas para exercer a liderança, seguras em sua atuação, com satisfação pelos resultados que alcançam e com orgulho da importância do que fazem.
Com coragem e gentileza.
Claudia Nogueira – Treinadora e mentora de liderança e servidora pública há 29 anos. Exerceu funções de gestão até 2012, quando deu uma guinada na vida profissional. Atualmente conduz o Programa de Mentoria de Liderança para servidoras. Pós-graduada em Coaching, possui certificação internacional em Mentoring e sua experiência inclui treinamentos de líderes e equipes em diversas organizações públicas e privadas. Coautora do livro “Elas na liderança”, pela Literare Books International.